Lake Nokomis, Wisconsin, USA
Silenciar
Hoje cedo, a primeira coisa que
me veio à mente foi o meu pai. Hoje ele faria 94 anos. Parece que foi ontem que
ele foi morar com Deus definitivamente. Digo assim porque papai morava com Deus
aqui na Terra também. Papai era simplório, bom, inocente. Quando choro a sua falta hoje, é porque preciso urgentemente ter um
reencontro com o silencio, que costumava me rodear até pouco tempo. Estou
desacostumada com o barulho que o mundo faz; com tudo que está acontecendo.
Leve o tempo que levar, eu não consigo me acostumar com as coisas ruins que
acontecem. Queria ser diferente do que sou, apesar de amar profundamente a mim
mesma, justamente por ter alma silenciosa.
Preciso encontrar pessoas que entrem em sintonia com a minha maneira de
silenciar. A receptividade silenciosa é
difícil de encontrar, mas posso conviver comigo sem que precise do silencio do
meu próximo. Neste mundo de tanta vaidade – o mundo se esvai em vaidade com uma velocidade de uma
cachoeira forte fazendo as suas águas descerem – é preciso aprender,
reaprender, calar-se. A ansiedade em que vivo, de querer mais das pessoas, de
exigir demais de mim mesma, de postergar coisas que deveriam ser feitas há
muito tempo, tudo isso precisa estar em sintonia com o meu silencio. Eu espero
reciprocidade onde nunca vou encontrar. Preciso começar a achar graça de coisas
bobas e não das que me fazem rir de verdade, como era o Mazzaropi, o Mussum, o
Zacarias... Aquilo sim era gente que me fazia sorrir com força. Toda esta
vaidade de hoje me cansa demais, me afeta fisicamente, me esgota, me tira o
sono. Preciso ficar tão quietinha que nem o som do meu respirar eu ouça. Assim
encontrarei respostas e estarei pronta para fazer o barulho do mundo que me
cerca.
Sunny L